facebooklinkedin
Publicidade
:: Home :: Notícias :: Brasil e EUA, entre tapas e beijos.
Notícias Veja mais
Brasil e EUA, entre tapas e beijos. - 05/04/2012

A presidente Dilma Rousseff recebeu, com todas as honras, o colega dos Estados Unidos, Barack Obama, no Brasil no ano passado. Agora, é a vez de Obama retribuir. Ele será o anfitrião da visitante em Washington na semana que vem. /Dida Sampaio-AE  A visita da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos, na próxima segunda-feira, será mais um capítulo da reaproximação entre duas economias, iniciada com a visita do presidente norte-americano Barack Obama ao Brasil, em 2011. A relação entre os dois países passa por altos e baixos desde as discussões para criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), ainda em 1994. A viagem da semana que vem já é vista por especialista como oportunidade para reverter o déficit da balança comercial do Brasil com os Estados Unidos.

Foi durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que os pontos de vista antagônicos entre ambos os países ficaram evidentes. Esse foi um período no qual a economia brasileira se projetou no cenário internacional, permitindo que as posições ideológicas do governo Lula se fizessem notadas pelos norte-americanos. Foi também um momento em que o Brasil se aproximou de economias em ascensão – em especial da China –, se permitindo afrouxar a relação com os EUA.

Mas agora, com os norte-americanos tentando reaquecer seu mercado interno para superar a crise econômica, o momento parece propício para a reaproximação.

Para Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria Econômica, os EUA precisam do dinheiro que circula na economia brasileira. Sinais disso já foram oferecidos pelo presidente Barack Obama, que anunciou a simplificação da emissão de vistos para turistas brasileiros. Um outro indicativo dessa maior abertura ao Brasil foi a recente retirada de sobretaxas para os exportadores de suco de laranja do País, que vigorava desde 2006. Por isso, Cortez vê a viagem como uma oportunidade de reverter o saldo negativo que temos na balança comercial com os norte-americanos. Desde 2009, quando a China passou a ser o principal parceiro comercial do Brasil, o País compra mais do que vende aos norte-americanos. No ano passado, o déficit chegou a US$ 8,1 bilhões.

"O governo brasileiro está preocupado com a queda na atividade industrial, portanto, a maior abertura dos mercados deve ser uma questão bem aproveitada na visita da presidente Dilma", disse.

AgendaEmbargos – Esse seria um momento interessante para se discutir embargos antigos e sobretaxas, em especial no campo do agronegócio. Questões como o anúncio de retirada da compensação dada pelo governo norte-americano aos produtores de algodão brasileiro, que vigora desde 2009, devem ter destaque nos debates, segundo o cientista político. As questões econômicas costumam ser negociáveis, diferentemente das questões ideológicas. Mesmo com o pragmatismo da presidente Dilma em relação a temas ligados à soberania das nações – comparando com a ênfase que Lula dava a tais questões –, dificilmente Brasil e EUA irão rever suas posições em relação ao Irã, por exemplo.

 

Petróleo – Mas os pontos de vista econômicos podem superar antigas questões ideológicas, e se tornarem de interesse comum, segundo Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington. Ele vê o petróleo como tema central dessa discussão. De acordo com Barbosa, os EUA pretendem diminuir a dependência do petróleo importado de países instáveis, como os do Oriente Médio e a Venezuela. "O Brasil entra como um parceiro estratégico nesse ponto", disse Barbosa.

 

O petróleo já é o primeiro produto da pauta de exportação brasileira para os EUA, e o avanço do Pré-sal tende a aquecer ainda mais essas vendas. Nesse ponto, a visita da presidente do Brasil a Washington pode ser usada para debater a exploração do petróleo brasileiro por empresas estrangeiras.

 

Para o ex-embaixador, a visita da presidente Dilma terá como principal objetivo a identificação de áreas de interesse comum entre os dois países. Entre elas, o diplomata destaca, além da exploração de petróleo, o meio-ambiente, questões ligadas aos direitos humanos e à ciência e a tecnologia.

 

Empresas – Entretanto, em meio a esses temas, pautas de interesse não só dos governos, mas de empresas de ambos os lados, como as questões cambiais, também devem ser debatidas na visita, segundo o cientista político da Tendências. Mais especificamente, a questão do câmbio artificial chinês. Esse é mais um tema comum. "Brasil e Estados Unidos devem se articular para ter as mesmas posições na Organização Mundial de Comércio (OMC) em relação ao tema. A desvalorização artificial da moeda chinesa prejudica ambos países", disse Cortez. Ainda em abril novos debates devem se dar com a visita da secretária de Estado Hillary Clinton ao País.

 

Pode o País deter o Irã?

 

Todos os olhos estão voltados para o Brasil – inclusive na questão nuclear. Sua posição como um dos líderes emergentes globais, somada à visita de  Dilma Rousseff à Casa Branca, na próxima semana, sinalizaria uma possível esperança nas articulações mundiais para evitar a propagação de armas nucleares – além de modelar o tão desejado ingresso do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Mesmo que, para acontecer, houvesse uma "ajudinha" velada de Washington.  

 

Em "O Brasil pode parar o Irã?" (do inglês, Can Brazil Stop Iran?, texto publicado no editorial de terça-feira do jornal americano The New York Times), o ex-secretário de Estado adjunto para assuntos interamericanos, Bernard Aronson, avaliou que, independente das "enormes" descobertas de petróleo (o pré-sal), da entrada de investimentos estrangeiros, e da atual posição de sexta economia mundial – à frente da Grã-Bretanha –, o País daria um passo corajoso ao acabar voluntariamente com seu programa para enriquecer urânio. "O País chamaria outras nações, como o Irã, a seguir o seu 'exemplo'".

 

O Brasil, que abriga a quinta maior reserva mundial de urânio, segundo Aronson, era uma força de não-proliferação: nos anos 90, colocou suas instalações nucleares sob supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (na sigla em inglês, Iaea), e se juntou ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Em 2004, porém, proclamou que "todos os estados teriam direito de enriquecer urânio para fins pacíficos".

 

Na opinião de Aronson, a maior falha brasileira é ignorar que as mesmas facilidades de enriquecer o material para fins pacíficos serviriam para fins menos nobres: o combustível irradiado em reatores pelo reprocessamento do plutônio, por exemplo, poderia ser reaproveitado na produção de bombas. A brecha, segundo ele, foi aproveitada pela Coreia do Norte. Agora o Irã tenta fazer o mesmo – o que exerceria pressão sobre a Arábia Saudita, Egito e Turquia para buscar armas nucleares próprias, conforme alertou o presidente Obama.

 

Para Aronson, uma nova postura brasileira tiraria o principal argumento do Irã de que estados avançados buscam uma espécie de "apartheid nuclear". Isso mostraria aos poderosos círculos militares e comerciais que o Brasil age por conta própria, não sobre "pressão" de Washington – apesar de sugerir que os EUA poderiam oferecer "incentivos por trás de portas fechadas", como a revisão da tarifa punitiva do etanol brasileiro, por exemplo. Isso catapultaria o Brasil à posição de liderança global sobre os desafios de segurança mais urgentes. "Dilma tem oportunidade de fazer uma abertura corajosa na solução da crise", disse.

Diário do Comércio
Calendário de eventos
Abril