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País fecha bimestre com déficit no comércio bilateral - 05/03/2013

O Brasil fechou o primeiro bimestre com resultado negativo de US$ 16 milhões no comércio com a Argentina. Trata-se de um déficit pequeno, mas, segundo economistas, mostra que a tendência de deterioração dos saldos comerciais nas trocas com os argentinos será mantida em 2013. É considerada baixa, porém, a probabilidade do comércio bilateral ter saldo negativo para o Brasil neste ano.

No primeiro bimestre de 2012, o Brasil ficou com superávit de US$ 837 milhões nas trocas com os argentinos. O déficit de US$ 16 milhões gerado no acumulado de janeiro a fevereiro deste ano foi resultado, em parte, de uma queda de 12,1%, considerado a média diária, nas exportações para o país vizinho. A redução foi bem maior que o recuo de 5,5% na exportação total brasileira no mesmo período.

Mas não foi só a queda de embarques que contribuiu para o resultado negativo do bimestre. As importações com origem na Argentina cresceram 20,7% de janeiro a fevereiro de 2013 contra mesmo período do ano passado. A importação brasileira total aumentou em ritmo menor, de 11,8%.

Rodrigo Branco, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), havia interpretado como bom sinal a retirada da barreira da licença não automática pelo governo argentino no fim de 2012. "Havia sinalização de flexibilização das barreiras e esperávamos que com a maior folga fiscal a Argentina voltaria a importar do Brasil."

A Argentina, porém, não mudou o "um por um", sistema pelo qual o governo exige, para cada dólar importado, o mesmo valor em exportação, diz Branco. A exigência é feita para que o importador argentino obtenha a declaração jurada, na prática uma autorização para comprar produtos do exterior. Ao mesmo tempo, o congelamento de preços aplicado pelo governo argentino, entre outros fatores, dificultam ainda mais o cenário no país. "Não creio em déficit este ano, mas numa continuidade da tendência de redução do superávit comercial do Brasil em relação à Argentina", diz o economista.

Ele lembra que a balança com a Argentina sofreu os efeitos das restrições do país vizinho já no ano passado, o que fez o superávit brasileiro recuar. Em 2011, o Brasil teve saldo positivo de US$ 5,8 bilhões no comércio com os argentinos. No ano passado, o superávit caiu para US$ 1,55 bilhão.

A queda do saldo comercial foi resultado de redução bem mais vigorosa da exportação brasileira do que da importação com origem Argentina. Em 2012, a exportação brasileira para o país vizinho caiu 20,7%, enquanto que a importação origem Argentina recuou 2,7%.

"Precisamos corrigir a balança. Não queremos reverter tendências. A balança não precisa ser superavitária para nós, pode ser equilibrada. O que não pode acontecer é queda nas exportações e nas importações, é preciso que o fluxo de comércio volte a crescer. Neste sentido, em 2012 o resultado não foi o ideal", declarou ontem, em viagem à Argentina, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel. Ele não quis comentar o déficit brasileiro no primeiro bimestre. "No comércio exterior você não pode analisar o resultado bimestral. O significativo é o resultado anual."

Bruno Lavieri, economista da Tendências Consultoria, considera baixa a probabilidade de o Brasil ficar com déficit este ano com a Argentina. "Nos dois primeiros meses do ano, as exportações são mais fracas. O saldo tende a melhorar a partir do segundo trimestre, quando começa a colheita da safra agrícola." A complementariedade entre a economia brasileira e a argentina deve ajudar a relação comercial entre os países, diz Lavieri.

O ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral tem opinião semelhante. Para ele, a Argentina depende muito de insumos brasileiros nos setores químico, de autopeças e de bens de capital. Esses embarques também devem ganhar mais força nos próximos meses e garantir saldo positivo para o Brasil em 2013. "No ano que vem, o quadro pode mudar um pouco."

Embora as licenças não automáticas tenham sido retiradas pelo governo argentino, outras restrições estão afetando a exportação para o país vizinho. Em 2012, a indústria calçadista brasileira, por exemplo, teve dificuldade de exportar para a Argentina, porque, com a licença não automática, os produtos demoravam a ingressar no território vizinho. Em 2012 uma média de 2,5 milhões de pares mensais ficavam retidos para cruzar a fronteira. A licença não automática começou a ser retirada desde outubro e agora não há mais calçados brasileiros esperando pela liberação, diz Heitor Klein, diretor-executivo da Abicalçados, que reúne fabricantes do setor.

A exigência da declaração jurada, porém, tem causado queda de demanda nos embarques de calçados brasileiros para o país vizinho. Em 2012, o Brasil exportou, segundo a Abicalçados, 10,2 milhões de pares para a Argentina, o que significa 25,6% a menos que o volume vendido em 2011. No mesmo período, a exportação total de calçados ficou praticamente estável, em volume, com elevação de 0,3%.

Mesmo com o fim das licenças não automáticas, as exportações não devem se recuperar, avalia Klein. Em janeiro, diz o diretor, o Brasil exportou para o país vizinho 173 mil pares de calçados, metade dos 350 mil pares vendidos à Argentina no mesmo mês do ano passado. Essa queda deve-se a dois fatores. "Com as barreiras no ano passado, muitas indústrias brasileiras desistiram de exportar para a Argentina. Além disso, a demanda tem sido afetada por questões econômicas e também pela exigência da declaração jurada."

Não há muita perspectiva para que as indústrias voltem a exportar com força para a Argentina, diz Klein. Em 2011, a Argentina era o segundo maior destino externo dos calçados brasileiros. No ano passado, o país vizinho manteve essa posição, mas a participação no total exportado pelo Brasil, levando em conta volume de calçados, caiu de 12% em 2011 para 9% no ano passado. Em janeiro deste ano, porém, essa fatia da Argentina foi somente de 1,4% contra 3,1% no mesmo mês do ano passado.

Valor Econômico
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