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Embaixador chinês mira resistência de empresários brasileiros - 03/09/2012

A China está preocupada em reduzir a resistência brasileira, em especial no meio empresarial, ao aumento das importações chinesas e aos crescentes investimentos do país asiático no Brasil. Em tom conciliador, seu principal representante no Brasil, o embaixador Li Jianzhang, no cargo desde janeiro, falou sobre as relações bilaterais em evento promovido pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) em São Paulo, nesta sexta-feira. Mas ressaltou que a “China é contra o protecionismo”.

Há três anos, a China é o principal parceiro comercial do Brasil – o Brasil é o nono para a China. Em 2011, o comércio bilateral entre os dois países alcançou US$ 77 bilhões, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Neste ano, pela estatística brasileira, até junho, foram US$ 37 bilhões. Pela chinesa, cerca de US$ 49 bilhões.

É uma corrente de comércio que tem sido favorável ao Brasil. Nos últimos dez anos, o Brasil teve saldo positivo de mais de cerca de US$ 22 bilhões, dos quais US$ 11,5 bilhões somente no ano passado. Mas os brasileiros se ressentem do perfil da pauta de exportações brasileira para os chineses, e reclamam que os produtos que chegam do país asiático, com preços normalmente inferiores aos daqui, estão destruindo a indústria local.

Na pauta de exportações da China para o Brasil, predominam máquinas e aparelhos elétricos (montados e partes); máquinas e aparelhos mecânicos (montados e em partes); máquinas e equipamentos para construção civil, máquinas agrícolas, locomotivas e vagões. Em sentido contrário, porém, o Brasil envia aos chineses montanhas de soja e de minério de ferro, algodão, petróleo e derivados. O único bem industrializado com alto valor agregado em destaque são aviões da Embraer, em parte fabricados lá.

Na avaliação de Jianzhang, é natural que seja assim, pela abundância de recursos naturais que o Brasil tem, e pela grande necessidade que a China tem desses materiais para manter suas indústrias em funcionamento. “São economias complementares. A China é um grande mercado. Neste ano, nossas importações já superaram US$ 1 trilhão. Sempre tivemos déficit com o Brasil – pela estatística brasileira, nos últimos dez anos a China foi superavitária em 2007 e 2008. Mas nunca pedimos o equilíbrio porque o comércio é global. Mesmo tendo déficit com o Brasil, podemos ter superávit com a Argentina”, disse o embaixador.

A visão de que o Brasil só vende produtos de baixo valor agregado, em sua argumentação, também seria apenas uma questão de ponto de vista. Considerando a alta produtividade dos produtores rurais brasileiros, o embaixador chinês disse que a criação de porcos no Brasil é atualmente mais rentável que a indústria siderúrgica chinesa, o que comprovaria sua tese de que o Brasil não vende necessariamente produtos de baixo valor agregado. “Gostaria que vocês revissem esse conceito”, afirmou.

Segundo o diplomata chinês, apesar da percepção de que a pauta de exportações ainda é formada basicamente por matérias-primas, o Brasil também começa a vender à China novos produtos e produtos com maior valor agregado, como petroquímicos e alimentos, em especial carnes.

Quanto à crescente importação de peças da China para a montagem de produtos no Brasil, Jianzhang limitou-se a dizer que acha que ela pode dar maior competitividade à indústria brasileira. E citou o exemplo de grandes indústrias, como a Boeing, que montam seus equipamentos com partes feitas em diversos países. “Hoje, a indústria é global”, afirmou.

Na percepção de Jianzhang, outra preocupação dos brasileiros que poderia emperrar o desenvolvimento futuro das relações entre os dois países é a de que o fluxo de investimentos diretos está desbalanceada. No ano passado, os chineses investiram no país US$ 5,2 bilhões, pelos cálculos dos chineses. Neste ano, já foram US$ 14 bilhões, em segmentos que vão do automobilístico e de máquinas ao agrícola e de mineração.

Foi dinheiro suficiente para garantir aos chineses posição de destaque em setores estratégicos, como o de distribuição de energia elétrica e exploração de petróleo, através de empresas como State Grid e Sinopec. Empresas brasileiras também investem na China. Mas nenhuma delas tem por lá posição tão destaca em áreas chaves como essas. Para Jianzhang, porém, o investimento direto chinês no Brasil só tem pontos positivos. Significa a entrada de capital novo, de novas tecnologias, o contato com um estilo de administração diferente e mais empregos locais.

“São preocupações naturais, pela rápida evolução das relações bilaterais”, disse o diplomata. “Por isso, precisamos nos conhecer melhor para avaliar de forma mais imparcial os problemas e não comprometer a cooperação”.Ao final da palestra, o embaixador brasileiro Rubens Ricúpero, diretor da faculdade de economia da FAAP, ponderou que o temor em relação à China é universal e natural. “A re-emergência da China no cenário internacional, após 250 anos, é um dos dois ou três fenômenos mais importantes das relações internacionais nos últimos 300 anos”, disse. “Porque mexe não só com economia, mas com todos os setores”.

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