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Na mira dos forasteiros - 23/01/2012



Costa, do HSBC: de olho nas pequenas com potencial

Há dois anos, a BB DTVM, braço do Banco do Brasil e uma das maiores administradoras de recursos do país, criou no Japão um fundo de investimentos que tem 80% de suas cotas em papéis públicos – títulos do governo brasileiro – e 20% em papéis de empresas brasileiras que rendem dividendos, como as gigantes Petrobras e Vale. A reação dos investidores japoneses foi calorosa. De lá para cá, o fundo conseguiu uma captação equivalente a 100 milhões de reais. “É um exemplo de como essa demanda pode ser surpreendente”, afirma Carlos Takahashi, presidente da BB DTVM. “O Brasil tem sido muito procurado por investidores interessados em seus ativos.” Para dar conta dessa tendência promissora, que tem por trás os bons fundamentos da economia brasileira, as administradoras de fundos estão abrindo filiais em outros países ou formando parcerias com corretoras estrangeiras para reforçar as ofertas aos investidores estrangeiros, que passaram a ver o país como bom destino para seus recursos.

 

Outros participantes do mercado, além da BB DTVM, também estão explorando a atração que o Brasil passou a exercer sobre investidores de outros países. É o caso da coreana Mirae, uma das maiores administradoras de recursos do mundo, que lançou, há cinco meses, um fundo lastreado em papéis de renda fixa brasileira. E também da HSBC Global Asset Management, braço do banco britânico HSBC, que oferece fundos de investimentos lastreados em papéis brasileiros em dois continentes: Europa e Ásia. No caso da Mirae, o fundo lançado há cinco meses é composto de títulos do Tesouro, tem rentabilidade de 12% ao ano e captou 1 bilhão de dólares. “A demanda foi surpreendente”, afirma Luciana Pazos, chefe de gestão de fortunas da Mirae Securities em São Paulo.

 

O sucesso do produto incentivou a Mirae a criar novos produtos com lastro no Brasil para oferecer a investidores estrangeiros. “Estamos planejando lançar, em 2012, produtos de recebíveis imobiliários, ou seja, papéis lastreados em créditos imobiliários, entre outros fundos atrelados a papéis do Brasil”, adianta a executiva.

 

A experiência desses administradores demonstra que nem todos os investidores se comportam da mesma maneira. Alcindo Costa, diretor de distribuição da HSBC Global Asset Management, observa que, na hora de escolher suas apostas, o investidor da América do Norte mostra preferências bem específicas. “Ele prefere comprar estratégias globais, como fundos regionais que investem em América Latina”, afirma. No período entre 2009 e 2010, no entanto, um dos fundos de sua administradora, que oferece posições em ações de empresas brasileiras e é negociado no exterior, chegou a captar o montante de 10 bilhões de dólares. “Este é um fundo em que a gestão é feita do Brasil e que teve uma boa acolhida pelo mercado”, observa o executivo. Costa constata que a crise global, aliada à derrocada das bolsas do mundo nos últimos anos devido à crise do sub-prime nos EUA e às incertezas da economia europeia, atraíram uma leva de investidores para outro tipo de fundos – aqueles de renda fixa. “Descobriram que, por causa dos juros praticados no Brasil, os fundos de renda fixa aqui rendiam muito mais”, explica ele. “Então, assistimos a uma imensa procura por esse tipo de produto; mas com o surgimento de medidas como o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), vimos essa demanda encolher”, observa Costa.

 

A estratégia do HSBC para oferecer a estrangeiros novas oportunidades de investimentos em solo brasileiro não termina por aí. O banco está se preparando para lançar outro fundo na área de infraestrutura, um dos setores tidos entre os mais promissores em consequência do crescimento do país. “Será um fundo composto de small caps, ou seja, ações de pequenas empresas que apresentam grande potencial de expansão em projetos de longo prazo”, adianta Costa. “A ideia é oferecer este fundo primeiro no mercado europeu e depois no Japão.”

 

Entre os bancos brasileiros, o Itaú Unibanco planeja constituir dois novos fundos de investimentos voltados para investidores estrangeiros em 2012, segundo afirmou à agência Dow Jones, no fim de 2011, o diretor de Gestão de Recursos da Itaú Asset Management, Paulo Corchaki. Hoje, cerca de 10% da carteira de ativos de 200 bilhões de dólares do banco estão em mãos de investidores estrangeiros – em grande parte japoneses. A meta do Itaú Unibanco é dobrar essa participação para 20%, segundo a mesma entrevista a Dow Jones.

 

Estudiosos dos movimentos financeiros observam que essa tendência de internacionalização na área de fundos é um processo que deve se consolidar. “É um caminho sem volta”, observa Moacir de Oliveira Júnior, professor de negócios internacionais da FEA/USP e da FIA e autor do livro Multinacionais Brasileiras: Internacionalização, Inovação e Estratégia Global. Para ele, assim como acontece com as empresas brasileiras, os fundos também seguem uma tendência global. “É um mercado em que há muita competição e onde inovar é primordial”, diz ele. “E a internacionalização é uma forma de inovação.”

 

Para a BB DTVM, que já estava presente na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia, isso quis dizer passar a explorar também o mercado latino-americano para a colocação de papéis brasileiros por meio de fundos de investimento – com resultados melhores que os previstos, segundo Carlos Takahashi. No Chile, por exemplo, o BB DTVM fez, no segundo semestre do ano passado, uma parceria com a Principal, empresa associada à BrasilPrevi, e já captou 50 milhões de dólares em um fundo dirigido a investidores de alta renda. “É um fundo de small caps”, explica o executivo. “Teve uma demanda excelente.”

 

Na Colômbia, a administradora de recursos do Banco do Brasil fez uma parceria com a corretora Interbolsa, um dos maiores grupos de investimentos da América Latina, para ganhar penetração no mercado. A primeira iniciativa da BB DTVM em solo colombiano foi um fundo, lançado em julho deste ano, que já alcançou uma captação de 30 milhões de dólares entre investidores pessoas físicas. “É um fundo de renda variável, mas com um perfil dinâmico, ou seja, troca de posições seguidamente conforme o cenário”, afirma Takahashi. “Ele tanto pode ser voltado para ações de empresas como estar mais posicionado em renda fixa, por exemplo.” A criação desse fundo, na Colômbia, coincide com um momento em que o país vizinho passa por grandes transformações, recuperando uma imagem que ficou associada ao tráfico e à guerra civil durante décadas. “O mercado de capitais está praticamente nascendo, tanto que quase não se veem bancos estrangeiros por lá”, observa Takahashi, deixando implícita a oportunidade que se abre para as instituições financeiras brasileiras.

 

Ele revela que a BB DTVM também estuda oportunidades em outros mercados sul-americanos, entre eles o Peru e a Argentina. Neste último, o Banco do Brasil adquiriu recentemente o Banco Patagonia e hoje estuda seu posicionamento e estratégia na região. “Uma ideia é começarmos a atuar no Uruguai, também, para oferecer fundos aos argentinos, já que detectamos que eles gostam de investir fora do país, por se sentirem mais seguros em economias de fora”, sugere o executivo. Além da América do Sul, a distribuidora do BB também faz incursões no mercado norte-americano, onde tem como destaque um fundo voltado para clientes private – investidores que contam com recursos acima de 1 milhão de reais – em Miami, na Flórida. Lançado este ano, captou 43 milhões de dólares, de acordo com Takahashi. “Nossa ideia é irmos devagar em mercados como os EUA, bastante competitivos”, diz ele. “Optamos por entrar de forma gradual.”

 

Nem mesmo a Europa, mergulhada em severa crise econômica e política, ficou de fora dos planos de expansão das administradoras de recursos brasileiras. A mesma BB DTVM enxergou na Irlanda a oportunidade para a criação de fundos no segundo semestre de 2010. Hoje, já somam 8 bilhões de dólares. A sede fica em Dublin, escolhida porque, assim como Luxemburgo, é uma praça financeira importante e um paraíso fiscal. A partir de Dublin, a BB DTVM poderá oferecer fundos offshore – localizados no exterior e sujeitos a uma legislação diferenciada – para investidores internacionais, fundos locais em países europeus e até carteiras voltadas para fundos brasileiros, que agora podem aplicar parte de seus recursos no exterior. “Administramos vários fundos de grandes corporações brasileiras com filiais no exterior”, diz Takahashi. “Verificamos que havia uma demanda reprimida nessa área, que combinou com nossa necessidade de crescer no exterior.”

 

Portugal, Cingapura e China deverão ser as próximas praças de atuação da BB DTVM. “A crise de confiança no mercado financeiro português o torna atrativo para uma administradora como a nossa, que está com um excelente rating”, afirma o executivo. Já Cingapura e China fazem parte de uma estratégia de penetração na Ásia, que tem como plataforma a base instalada no Japão, onde a distribuidora já atua. Toda essa movimentação confirma a avaliação de estudiosos como o professor Oliveira Júnior, da FEA/USP, e Fabio Gallo, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da PUC-SP: o avanço das administradoras brasileiras rumo a outros mercados deve ser considerado irreversível. “Está acontecendo no mundo todo, mas no Brasil ganha grandes proporções devido ao bom momento da economia”, observa Gallo. “Existe um mercado de investidores estrangeiros ávidos por nossos papéis”.

 

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