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A fantástica fábrica de guloseimas - 28/06/2018
Ninguém acuse as empresas brasileiras de serem pouco produtivas diante de Gilberto Poleto, o presidente da Bralyx, manufatura de São Paulo que exporta para mais de 50 países equipamentos para a produção de alimentos no setor de food service (padarias, restaurantes, pequenas indústrias, bufês e fornecedores de comida para eventos, entre outros). Ele responderá listando as barreiras que o empresário local enfrenta para ser competitivo — “a estrutura tributária interna, os juros altos, o aumento do custo da mão de obra e o dólar depreciado nos últimos anos” — e concluirá: “para conseguir manter alguma competitividade aqui dentro e até disputar os mercados globais, as empresas brasileiras, ao contrário do que diz muita gente, são muito produtivas”.

A queda recente do real deve dar um impulso às exportações de Poleto, e ele espera vender, neste ano, 15% de seu faturamento total no mercado global, ante 9% no ano passado (sobre um total de 50 milhões de reais). “Com o dólar mais valorizado, somos muito competitivos no exterior”, diz ele. “Nosso volume de produção, de cerca de 1,5 mil máquinas por ano, nos coloca, com certeza, entre os três maiores fabricantes mundiais de equipamentos para produzir alimentos no food service.” Mas o que, exatamente, fazem as máquinas construídas pelos 135 funcionários da Bralyx num conjunto um tanto improvisado de imóveis — são casas que foram sendo incorporadas à fábrica na medida em que seu crescimento exigia espaço físico maior — na Vila Gumercindo, na zona sul de São Paulo?

A resposta é uma lista extensa e cosmopolita de tipos variados daquilo a que chamamos de doces e salgadinhos. Ela inclui não apenas as unanimidades nacionais — coxinhas, pães de queijo e brigadeiros, por exemplo — como também arancini e gnocchi recheados da Itália; quibes e maamoul (doce com ingredientes como tâmaras ou castanhas) da cozinha árabe; bolinhos de bacalhau portugueses; a chipa paraguaia, a croqueta espanhola, os rellenitos (bolinhos de banana recheados de feijão-preto) e a pupusa (bolinho de milho e carne suína) da América Central; as galletas (biscoitos) mexicanas e, indo mais longe, o kahk (biscoito açucarado) do Egito e o modak, um docinho à base de coco que indianos costumam oferecer ao deus elefante Ganesh.

Poleto fundou a Bralyx em 1994, em parceria com a irmã Beatriz, até hoje sua sócia. Na bagagem, trazia vasta experiência acumulada ao trabalhar em fabricantes de alimentos e nas multinacionais produtoras de equipamentos para essa indústria. Quando resolveu apostar num empreendimento próprio, ele mirava um mercado que já conhecia: o das grandes indústrias alimentícias, para as quais pensava em fornecer, entre outros artigos, máquinas para massas frescas. Logo percebeu, entretanto, que havia uma demanda por parte de empresas de menor porte — restaurantes, padarias e bufês, entre outros — por equipamentos capazes de produzir coxinhas, empadas, pães de queijo e salgadinhos semelhantes.

Poleto desenvolveu, juntamente com uma empresa asiática, uma linha de produtos para esses clientes, ainda hoje o carro-chefe da empresa. Pouco depois, em parceria com uma multinacional com a qual já trabalhara, criou, para um cliente da Itália, seu primeiro equipamento destinado à culinária de outro país: uma máquina de fazer arancini (uma espécie de pastel de arroz comum na Sicília). De lá para cá, explorando a vantagem de estar num país de imigrantes, no qual tradições alimentares de todos os continentes são familiares, ele passou a produzir equipamentos próprios para as culinárias árabe, italiana, portuguesa e outras mais, exemplificadas na lista acima.

Concentrada, inicialmente, na linha de salgados (exceção feita aos indispensáveis brigadeiros), a Bralyx ampliou seu portfólio há cerca de um ano e meio: entrou no mercado de equipamentos voltados para a produção de biscoitos e itens de confeitaria, como amanteigados, muffins, suspiros e petits-fours. Comparado ao de salgados, esse é um mercado globalmente mais disputado, observa Poleto. “Mas já estamos conseguindo vender inclusive para a França”, ele diz — um país conhecido pela confeitaria tradicional e refinada. Em terras francesas, os equipamentos da Bralyx produzem confeitos clássicos, como os coloridos macarons, feitos à base de clara de ovo e farinha de amêndoas, e os éclairs — as bombas recheadas de creme de chocolate ou de baunilha, como são conhecidas no Brasil.

O modelo operacional da empresa, similar ao de uma montadora de automóveis, facilita a ampliação de seus mercados. A Bralyx identifica um nicho de mercado, projeta e desenvolve as máquinas que vão atendê-lo e terceiriza a fabricação das peças, assumindo a responsabilidade pela montagem final dos equipamentos, o marketing e o suporte pós-venda. Graças a esse modelo de produção enxuta, pode dedicar metade de sua equipe de colaboradores para o contato direto com o mercado e os clientes, em atividades como vendas e assistência à operação. “Tanto no Brasil quanto no exterior, oferecemos muito treinamento a nossos clientes; eles sempre recebem funcionários nossos, que lá permanecem algum tempo ensinando-os a utilizar melhor os produtos”, conta Poleto. “Também promovemos, no mercado interno e no exterior, degustações dos produtos feitos com nossos equipamentos.”

A empresa mantém um grupo de dez pessoas dedicado à pesquisa e ao desenvolvimento, que trabalha tanto em novos equipamentos quanto em novas aplicações para os já existentes. Nesta segunda vertente, a equipe desenvolveu, por exemplo, uma receita de coxinha vegana e sem glúten para atender, ao mesmo tempo, o mercado dos vegetarianos e das pessoas com intolerância a essa proteína. Também criou o bolinho de feijoada, com massa de feijão e recheio de carne-seca. Já o desenvolvimento dos equipamentos gerou, entre outros avanços, máquinas com ajustes adequados a processar de maneira distinta misturas diferentes: é o caso das misturas para a massa de coxinhas, quibes e empadas. Deu origem, também, a peças complementares, como artefatos para cozinhar previamente a massa das coxinhas e para empaná-las. Outros equipamentos fazem a cobertura dos brigadeiros e aplicam estampas em biscoitos.

A Bralyx quer entrar, ainda neste ano, no mercado norte-americano

O crescimento fez a fábrica ficar incômoda nas atuais instalações e forçou uma mudança. Ainda neste primeiro semestre, a Bralyx deve mudar-se para nova sede, no bairro de Vila Mercês, na zona leste da capital paulista. Com cerca de 3 mil metros quadrados, ela exigiu investimentos de 8 milhões de reais e vai dar à empresa uma base mais confortável. Mas o motor da expansão internacional do negócio continua a ser a vasta teia de relacionamentos criada por Poleto durante sua trajetória na indústria alimentícia e na cadeia de fornecedores de equipamentos para os fabricantes de alimentos. “Sou um caixeiro-viajante e, assim como minha sócia, estou sempre viajando e participando de eventos”, diz ele. A Bralyx integra o Projeto Setorial Brasil Food Service — desenvolvido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e a Associação Brasileira das Indústrias de Equipamentos, Ingredientes e Acessórios para Alimentos (Abiepan) para promover os produtos brasileiros no setor — e participa de diversas feiras no exterior, nas quais escuta os clientes e garimpa oportunidades em novos nichos do mercado global: somente este ano, serão 11 eventos em diversos países. Parte significativa de suas exportações é realizada por meio de distribuidores, mas há também algumas vendas internacionais diretas.

Em qualquer país onde faz negócios, a Bralyx tem nas pequenas e médias empresas seu principal mercado: “O tíquete médio de nossas vendas está hoje em, aproximadamente, 20 mil dólares”, especifica Poleto. No rol das mais de 50 nações para os quais ele vende produtos, aparecem tanto países desenvolvidos ou com mercados grandiosos — casos da Inglaterra, França, Austrália e Índia — como nomes pouco conhecidos, como as ilhas Réunion (uma possessão francesa no Oceano Índico). Em 2013, Poleto e sua irmã lançaram uma operação da Bralyx na cidade inglesa de Bedford, 70 quilômetros ao norte de Londres, escolhida por suas ligações aéreas e ferroviárias com locais importantes na malha logística britânica. Nessa primeira operação internacional da empresa, três funcionários oferecem suporte comercial, técnico e de serviços aos clientes globais, em especial ao mercado europeu.

Quais os próximos passos no mundo? Poleto pensa em dois mercados em particular: o primeiro é o mundo árabe, hoje uma de suas prioridades e alvo direto de uma linha de máquinas lançada há cerca de dois anos, batizada de MK pela junção das iniciais das duas iguarias regionais já citadas, o maamoul e o kibbeh. O outro são os Estados Unidos, onde a Bralyx espera receber, ainda no primeiro semestre do ano, as certificações de engenharia e de segurança alimentar para seus produtos. A empresa já vendeu algumas máquinas para o mercado norte-americano, mas sem esse selo de qualidade não consegue negociar com nenhum grande distribuidor. Uma empresa já foi aberta nos Estados Unidos e está pronta para mergulhar no imenso mercado americano quando saírem as certificações. “Os Estados Unidos podem ser muito significativos para nossos negócios”, avalia Poleto. A razão? “Lá, como aqui, vive gente de todas as culturas: os próprios norte-americanos, e também árabes, italianos, hispânicos e brasileiros, entre outros.” Um prato cheio para quem oferece um cardápio tão variado.
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