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Nas rotas da inovação - 28/06/2018
Quando duas das maiores empresas de tecnologia do mundo instalam centros de pesquisa num país com poucos meses de diferença, é para se prestar atenção. Foi o que aconteceu este ano no Brasil. Em novembro, a GE, gigante de engenharia cuja história se confunde com a do próprio desenvolvimento da indústria no mundo, inaugurou seu primeiro Centro de Pesquisas Global na América do Sul: um grande prédio envidraçado construído na ilha do Bom Jesus, no fundo da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.

Cinco meses antes, em junho, tinha sido a vez de a Boeing, uma das líderes mundiais na indústria aerospacial, instalar seu próprio centro de pesquisas (também o primeiro na América do Sul) no Parque Tecnológico de São José dos Campos, no interior de São Paulo — a capital aerospacial do Brasil, sede da Embraer e de um complexo de empresas, escolas e instituições do setor.

A GE quer inovar localmente e exportar as inovações para o mundo

O que as trouxe para o país? No caso da GE — responde Kenneth Herd, o líder do centro de pesquisas brasileiro —, a empresa percebeu, já há alguns anos, que começava a se desenvolver uma forte base de clientes para seus produtos e serviços no Brasil e na América do Sul, o que justificava o investimento em uma organização que buscasse soluções para as necessidades desses clientes.

Cerca de metade delas está na área de petróleo e gás, o que ajuda a entender a escolha do Rio — a cidade base para a Petrobras e as empresas que trabalham na exploração do pré-sal nas bacias de Campos e Santos. Ajuda a entender, também, a localização do centro na ilha do fundo da baía.

Lá, a GE é vizinha do Cenpes, o centro de pesquisas da Petrobras, e de outras empresas nacionais e multinacionais da cadeia de petróleo e gás. Também divide o cenário com os campi da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do CO
PPE-UFRJ, o instituto de pesquisa e pós-graduação da universidade, que se tornou parceiro frequente dos projetos de pesquisa da GE.

A outra metade das necessidades que o centro vai atender abarca as áreas de energia, aviação, transportes e saúde (health care). Além do mercado potencial, outros critérios foram considerados pela GE na hora de bater o martelo no país e região onde instalar um centro de tecnologia.

Um deles é a presença de instituições políticas e científicas fortes, que permitam a realização de parcerias com nos e universidades. “Buscamos uma base acadêmica com as competências técnicas de que necessitamos”, diz Herd. “Foi com base nesses critérios de avaliação que decidimos, em 2010, trazer nosso centro de pesquisas para o Brasil. Uma vez fechada a escolha do Rio de Janeiro, começamos a recrutar o pessoal técnico.” De lá para cá, a equipe do Centro já chegou a 160 pessoas, das quais cerca de 130 em funções científicas e de pesquisa.

Até a inauguração do prédio próprio, em novembro, eles trabalharam em instalações temporárias no Parque Tecnológico da
UFRJ. Do pessoal técnico, 95% são brasileiros, afirma Herd (e 29% são mulheres). Cerca de 15% são brasileiros repatriados. “São pesquisadores, Ph.Ds. que trabalhavam em pesquisa em laboratórios e universidades fora do Brasil, e que nós recrutamos para voltar ao país”, diz ele. “A combinação é muito boa.” O conhecimento que eles produzirem aqui poderá ser replicado e aplicado fora do Brasil, reforçando a internacionalização da pesquisa e da tecnologia locais — um desenvolvimento que foi antecipado em novembro pelo presidente e CEO global da GE, Jeffrey Immelt.

“A abertura de um novo Centro de Pesquisas no Brasil permite à GE inovar localmente para clientes na América Latina e exportar essas inovações para o mundo inteiro”, disse o executivo na inauguração do Centro carioca. Herd explica que o próprio modelo de funcionamento dos Centros de Pesquisas da GE espalhados pelo mundo facilita e estimula a transferência de tecnologias entre as regiões — a empresa mantém quatro centros nos Estados Unidos e um cada na Alemanha, em Israel, na China e na Índia; o centro do Rio é o quinto fora dos EUA.

De certa forma, isso já promete acontecer com um dos projetos em andamento no Centro brasileiro, na área de aviação: o dos Céus Verdes (Green Skies). Os pesquisadores da GE estão desenvolvendo uma plataforma tecnológica baseada em softwares que permitem gerenciar o tráfego aéreo de maneira mais eficiente e econômica.

Duas empresas nacionais de transporte aéreo — a Gol e a Azul — participam do projeto, assim como o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) do Ministério da Defesa, o órgão do governo que toma conta do tráfego aéreo no Brasil. Segundo a GE, os primeiros testes da plataforma mostraram ganhos em economia de combustível, menor emissão de gás carbônico e redução nos tempos de voo.

Esses resultados despertaram o interesse da Federal Aviation Administration (FAA), o órgão regulador da aviação civil nos Estados Unidos, que procurou o Decea para entender como funciona o programa. “A FAA gostaria de saber como eles poderiam aplicar uma abordagem semelhante a desenvolvimentos regulatórios futuros nos Estados Unidos”, diz Herd.

Tecnologia aeronáutica, por certo, é a preocupação principal no Centro de Pesquisa e Tecnologia da Boeing — a maior empresa aerospacial do mundo — em São José dos Campos. Os programas em desenvolvimento, a partir da inauguração do centro, em junho, contemplam, entre outros, a pesquisa de biocombustíveis sustentáveis para a aviação, sensoriamento remoto e agricultura de precisão e a pesquisa de metais avançados e materiais sustentáveis
de origem biológica para a aviação.

Para tocá-los, a Boeing se associa a parceiros locais. “O modelo de operações da Boeing é eminentemente colaborativo”, afirma Antonini Puppin-Macedo, o diretor de operações do centro no Brasil. Os cientistas e engenheiros da Boeing no Brasil — quatro, até o momento, com a previsão de chegar a 15 até o fim de 2015 — têm a missão de coordenar e integrar as pesquisas desenvolvidas junto com as entidades parceiras, que fornecem a maior parte dos pesquisadores.

Puppin-Macedo estima que, para cada coordenador de pesquisas no centro, os parceiros terão de dez a 25 pesquisadores envolvidos no projeto em andamento. Entre as empresas e universidades já atraídas pela Boeing no Brasil estão a Embraer, para a pesquisa de combustíveis sustentáveis; a Universidade Federal de Minas Gerais, para o programa de materiais sustentáveis de origem biológica; e as universidades de São Paulo (USP) e Campinas (Unicamp), para a formação de uma rede colaborativa de pesquisas em ligas metálicas avançadas.

O centro da Boeing no Brasil é o sexto mantido pela empresa fora dos EUA — os demais estão na Europa, na Austrália, na Índia, na China e na Rússia; mais quatro ficam nos Estados Unidos. De quanto é o investimento feito por esses gigantes tecnológicos em suas novas operações brasileiras? A Boeing não revela os valores que aporta para cada um de seus centros de tecnologia. No caso da GE, o investimento anunciado para o centro brasileiro é de 500 milhões de dólares até 2020.

Com uma particularidade: entre bater o martelo para a instalação do centro no Brasil, há quatro anos, e sua inauguração em 2014, o valor anunciado dobrou (era de 250 milhões de dólares inicialmente). O que aconteceu para levar a essa decisão? Herd, o líder do centro, explica que, durante os últimos três anos, a direção da GE avaliou que as oportunidades de trabalho para os pesquisadores no Brasil eram muito maiores do que tinha sido previsto originalmente. Para aproveitá-las, a GE resolveu dobrar o número de engenheiros e cientistas a ser contratados.

A meta passou de 200 para 400 pesquisadores que trabalharão no centro até 2020. “Nosso investimento nas instalações segue em linha com a estimativa original”, diz Herd. “Mas vimos que podemos fazer mais, e para isso estamos investindo numa equipe maior.”


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