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Fala que eu te escuto - 28/06/2018
Bruno: aprendendo, na Ásia, que o silêncio vale ouro

Estou fora do Brasil desde 2006, quando fui convidado pelo Yahoo! para trabalhar na Austrália. Após cinco anos maravilhosos em Sydney, fui transferido para Cingapura, de onde chefio as operações da Microsoft Advertising para Austrália, Índia, Coreia do Sul e Sudeste Asiático (Cingapura, Malásia, Indonésia, Tailândia, Vietnã e Filipinas).


O desafio de atuar numa cultura tão diversificada e diferente da brasileira é grande, porém o aprendizado cotidiano é recompensa de valor inimaginável. Chamam a atenção a intensidade e a capacidade de planejamento desses países. Seus governantes sabem exatamente aonde querem chegar e investem consistentemente em educação, saneamento e distribuição de renda com base na geração de empregos e no estímulo ao emprendedorismo.


Cingapura é um benchmark mundial de eficiência, com suas ruas limpíssimas, comércio vibrante, população bilíngue e renda per capita acima de 60 mil dólares. Na Malásia, um bom exemplo de sucesso é Penang, conhecida como a Ilha do Silício, em referência a empresas como Intel, Dell e AMD, que estabeleceram suas plantas na cidade. E enquanto na Indonésia a corrupção ainda é um problema a ser resolvido, a emergência da classe média, que de acordo com recente relatório da McKinsey deve abrigar 90 milhões de pessoas em 2030, impulsiona a economia e atrai investimentos de empresas de todo o mundo.


Quanto ao aprendizado, costumo dizer que a principal diferença é que enquanto no Brasil, e no Ocidente de forma geral, somos uma cultura de falastrões, na Ásia deparamos com ouvintes. E é preciso compreender essa diferença entre as duas metades do mundo para fazer negócios ou liderar uma equipe com eficiência. É claro que há exceções, como a Índia, mas prefiro me ater à regra para ilustrar meu ponto.


Os asiáticos evitam confrontos e preferem escutar e digerir a informação antes de expressar seus pontos de vista. É comum em conference calls ou reuniões "ouvirmos" silêncios por intermináveis segundos antes da réplica à alguma pergunta ou comentário. No início é um sofrimento falar e não obter reações imediatas, mas logo esse desconforto se transforma em contentamento por estarmos, de fato, sendo escutados.


Com o tempo, notei que a respiração é a técnica por trás desse hábito. Você fala, eu escuto, respiro duas ou três vezes pausadamente, reflito e, se tiver algum comentário pertinente ou alguma pergunta no sentido de melhorar minha compreensão sobre o assunto, replico. Caso contrário, apenas permaneço em silêncio aguardando o meu interlocutor complementar seu raciocínio, mudar de tópico ou também silenciar, oferecendo a mim a chance de passar a um novo tópico. Enquanto respiro pausadamente, entro no ritmo da conversa e permito-me escutar e falar com a mesma atenção.


Poderia me alongar para discutir os benefícios e as desvantagens dessa conversa ritmada. Mas não cabe a mim julgar um costume de milênios. Portanto, apenas convido o leitor a respirar mais e a falar menos em suas próximas conversas. É, no mínimo, um exercício interessante e um jeito de experimentar um pouco da cultura oriental que venho vivenciando nos últimos anos.


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