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Pequenas notáveis - 28/06/2018
Sistema de Clareamento dental: alvo de concorrência chinesa

Quando se lista o potencial do Brasil como exportador de produtos associados à inovação tecnológica, e não apenas de commodities agropecuárias e minerais, os setores citados são sempre os mesmos: indústria aeronáutica, extração de petróleo em águas profundas e alguns segmentos da indústria de tecnologia da informação. Mas há outros mercados nos quais o potencial competitivo do país começa a despontar em razão dos benefícios trazidos pela inovação tecnológica.


É o caso, por exemplo, da indústria de instrumentos médicos e cirúrgicos, hoje incluída entre as mais expressivas vertentes de geração de negócios internacionais para os projetos integrados ao polo de tecnologia de São Carlos. Sede de diversas instituições universitárias, esse município paulista aglutina, também, empresas dedicadas a outros ramos do desenvolvimento tecnológico, como indústria aeronáutica e aeroespacial, automação e desenvolvimento de materiais. Um dos expoentes do cluster de indústrias inovadoras dessa região é a MM Optics – ou MMO, como também é conhecida –, fabricante de instrumentos projetados com base na optoeletrônica, a ciência que une os conceitos da óptica com a eletrônica. Ou, em termos mais práticos e mais usuais, a ciência capaz de gerar equipamentos dotados de recursos como laser e LEDs (diodos emissores de luz).


Fundada em 1998 por cinco profissionais provenientes de instituições de ensino e pesquisa de São Carlos, a MMO exporta para diversos países da América Latina – como Peru, Bolívia, Equador, México e El Salvador –, para a Suécia e a Coreia do Sul. O esforço do momento é cavar um espaço no maior de todos os mercados, o dos EUA. Graças a esse desempenho, a empresa foi uma das vencedoras da mais recente edição do Exporta São Paulo, prêmio conferido pela Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo e pela São Paulo Chamber of Commerce às empresas paulistas com melhor desempenho no exterior.


No esforço de disputar clientes exigentes lá fora, a empresa priorizou investimentos no desenvolvimento tecnológico, que acabaram gerando, de acordo com Fernando de Moraes Mendonça Ribeiro, sócio-diretor da MMO, uma inovação inédita em âmbito mundial: um sistema de polimerização de resinas odontológicas – aquela pequena luz azulada utilizada pelos dentistas para solidificar as resinas colocadas na boca do paciente –, confeccionado com LEDs, em vez das anteriores lâmpadas convencionais. Graças aos LEDs, além de menores e mais facilmente manuseáveis, os equipamentos de polimerização tornaram-se mais econômicos e passaram a exigir menos manutenção. "Agora essa é praticamente a única tecnologia utilizada, em todo o mundo, nessa aplicação", diz Ribeiro.


Mas tal façanha não rendeu dividendos comerciais à MMO: afinal, um ano antes de obter no Brasil a respectiva patente – mais exatamente em 2001 –, a empresa já havia divulgado a inovação em artigo publicado numa revista científica. Abriu, assim, brechas para multinacionais questionarem esse registro brasileiro – e simultaneamente impedirem sua concessão em outros países –, valendo-se de um princípio denominado "anterioridade", que veda a concessão de patentes sobre conhecimentos já tornados públicos. "Fomos ingênuos", admite Ribeiro. "A patente foi quebrada em razão do artigo que nós mesmos publicamos."


Embora sem a proteção do registro de propriedade, a nova tecnologia contribuiu decisivamente para franquear à MMO as portas do mercado externo, no início com esses equipamentos de polimerização, mais tarde com equipamentos para clareamento de dentes e, posteriormente, com o chamado "laser terapêutico", projetado para combater a dor e favorecer processos de cicatrização. Tais exportações começaram há aproximadamente dez anos e tiveram como origem demandas geradas em contatos com potenciais compradores ocorridos em feiras e encontros científicos promovidos no Brasil (ou, quando no exterior, em eventos aos quais a empresa comparecia apenas como visitante).


A partir de 2005, com o apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), a empresa montou, pela primeira vez, um estande durante um evento na Alemanha e, desde então, leva regularmente sua marca a feiras no exterior. No segundo semestre deste ano, estará presente em eventos programados para o México e a cidade de Düsseldorf, na Alemanha. Tão logo começou a exportar, a empresa designou um profissional para cuidar de sua presença internacional, responsável, entre outras coisas, por prospectar novos mercados e lidar com uma rede composta de nove distribuidores, localizados nas Américas, na Europa, na Coreia e no Oriente Médio. "Nesse mercado é necessário trabalhar com distribuidores", diz Ribeiro. "Eles conhecem os regulamentos relacionados a equipamentos médicos e odontológicos específicos de cada país." Ele lembra que, quando a MMO começou a se inserir no mercado internacional, havia muita desconfiança em relação à capacidade de empresas brasileiras produzirem equipamentos médicos e odontológicos. "Mas essa situação já mudou muito, e o trabalho da Apex-Brasil, ajudando a mostrar nossa tecnologia, contribuiu muito para essa mudança", afirma.


No ano passado, cerca de 4% do faturamento da empresa foi gerado por seus negócios no exterior. Tal índice já foi maior, reconhece Ribeiro. A queda decorre de uma conjugação de fatores, entre os quais se incluem a acentuada valorização do real perante o dólar, vigente até há pouco tempo, e o acirramento da concorrência proveniente de outros países. A expectativa é de que as receitas oriundas das operações no exterior atinjam 15% do faturamento de 8 milhões de reais esperado para este ano.


Esse expressivo crescimento decorrerá não só do câmbio mais favorável, mas também do início das operações nos Estados Unidos e da introdução de novos produtos no mercado. Entre eles, produtos capazes de ampliar a presença da empresa – atualmente muito forte na área odontológica –, no mercado de instrumentos médicos e, mais especificamente, no segmento da oncologia.


Um desses produtos traz embutida a recém-lançada tecnologia de tratamento do câncer de pele, denominada Lince, já certificada no Brasil e na Comunidade Europeia e, atualmente, objeto do processo de certificação no mercado norte-americano. Outro, destinado ao tratamento de câncer de colo do útero, está sendo desenvolvido em parceria com uma empresa dos Estados Unidos e deve ser lançado no mercado norte-americano na segunda metade deste ano. Tal empresa, do setor de biotecnologia, conheceu o trabalho da MMO durante um evento científico. "Interessaram-se por nossa tecnologia e propuseram a parceria", conta Ribeiro.


Paralelamente, a empresa planeja investimentos mais intensos no mercado da estética. Numa feira realizada em São Paulo, no ano passado, a MMO apresentou um aparelho portátil que faz uso do laser para estimular processos naturais de regeneração cutânea. "Lançaremos novos produtos para o mercado da estética no segundo semestre", anuncia Ribeiro.


Ele observa que, nos últimos anos, consolidou-se no mercado internacional uma intensa concorrência de equipamentos odontológicos e médicos oriundos da China: inicialmente, no segmento dos polimerizadores de resinas; posteriormente na área dos clareadores de dentes e agora em outros gêneros de produtos. Essa concorrência asiática não poderia deixar de afetar as exportações da MMO, mas Ribeiro vê razões para continuar otimista. "Os competidores chineses vêm com tecnologias já estabelecidas, enquanto nós temos capacidade de novos desenvolvimentos tecnológicos, especialmente aqui na região de São Carlos, onde temos um grupo de excelência para pesquisas nessa e em outras áreas", diz.


Atualmente com 49 funcionários, a MMO mantém uma estrutura de pesquisa na qual, além dos cinco sócios – três deles com formação em Engenharia ou Física, e os outros dois técnicos –, atuam outros dez profissionais. Em suas pesquisas, trabalha conjuntamente com instituições como o Instituto de Física do campus de São Carlos da Universidade de São Paulo e com o Hospital Amaral Carvalho, de Jaú, hoje centro de referência no tratamento do câncer.


Exportar, ressalta Ribeiro, é um processo demorado, que exige apoio e financiamento em condições nem sempre disponíveis para empresas de menor porte, como é o caso da MMO. "Usamos financiamento para exportação, mas apenas as linhas convencionais dos bancos comerciais", diz. "Do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), até hoje, obtivemos recursos apenas para capital de giro. Segundo Ribeiro, cerca de 8% do faturamento da companhia reverte-se para a atividade de pesquisa e desenvolvimento. Tais investimentos são complementados com recursos provenientes de fontes oficiais de fomento à pesquisa, como a Agência Brasileira da Inovação (Finep) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Uma das prioridades é intensificar o processo de pesquisas em parceria com empresas de outros países, como já acontece com a companhia americana com a qual desenvolve o equipamento para tratamento de câncer de colo de útero. "Esse pode ser um caminho menos custoso para o mercado externo", pondera Ribeiro.


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