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Brasil e Argentina estão finalmente se acertando - 08/02/2017

 

Em 2016, o Brasil exportou para a Argentina US$ 13,4 bilhões. E importou dela apenas US$ 9 bilhões. Fez aparentemente um bom negócio, com um superávit, em números redondos, de US$ 4,4 bilhões.

Mas o negócio é bom só quando as duas partes ficam satisfeitas. O que não é o caso dos argentinos. Reunidos nesta terça-feira (07/02) em Brasília, Michel Temer e o presidente Maurício Macri trataram do assunto.

Um dos gargalos do comércio bilateral é o setor automotivo. Macri disse, na segunda-feira em Buenos Aires, a jornalistas brasileiros, que 80% do déficit que o prejudica é composto por veículos e autopeças. O que exigiria um esforço do parceiro argentino para voltar a produzir mais nessa área.

Esse é um dos tópicos que não deveria mais existir se o Mercosulfuncionasse a contento. A partir do Tratado de Assunção (1991), e sobretudo do Protocolo de Ouro Preto (1994), o bloco – também composto pelo Uruguai e Paraguai – deveria suprimir as barreiras internas, com a paralela adoção de uma tarifa conjunta no comércio com terceiros.

Idealmente, todos produziriam autopeças e teriam montadoras, praticando um intercâmbio em que os parceiros internos atuariam segundo o tamanho de seus respectivos mercados.

Acontece que Brasil e Argentina conviveram com inflação e variação de taxas de câmbio divergentes. Um país tendia a jogar sobre o outro a compensação de suas desvantagens de circunstância.

Além disso, a partir de 2001, com o fim da paridade entre o peso e o dólar, uma astúcia operada pelo governo argentino de Carlos Menem (1989-1999), a Argentina pura e simplesmente se desindustrializou em setores importantes, como o mecânico e eletrônico.

Agora, o esforço argentino consiste em reconstruir essa indústria, em modelos mais atualizados (com mais robótica e informatização) para diminuir sua dependência com o Brasil.

Enquanto seu lobo não vem, a Argentina lança mão de uma mutreta comercial que consiste em retardar as licenças de importação de produtos brasileiros que exijam essa formalidade.

Os dois países também se ressentem de barreiras sanitárias impostas ao intercâmbio de bens agrícolas e pastoris.


OS NÚMEROS ÀS VEZES ENGANAM

Em termos reais, no entanto, o comércio entre os dois países passou na última década por um invejável aumento. Ele cresceu em 150%. Mas as exportações brasileiras cresceram mais rápido: 181%.

Esse dado, isoladamente, não revela um outro favor posterior à criação do Mercosul que é a emergência da China como parceiro que surrupiou o lugar que o Brasil ocupava para os argentinos, e vice-versa.

As exportações brasileiras para a China superaram em US$ 22 bilhões o que foi vendido para a Argentina em 2016. E os números eram maiores entre 2011 e 2013, quando a China não estava com seu crescimento mais desacelerado.

Outro entrave está no comércio com outros blocos. Brasil e Argentina só podem assinar acordos comerciais se atuarem em conjunto, debaixo da identidade do Mercosul.

Emperraram as negociações com a União Europeia, diante dos obstáculos da Argentina, durante o governo de Cristina Kirchner (2007-2015).


O FIM DA PAJELANÇA PERONISTA

A derrota eleitoral do peronismo, no final de 2015, e a queda do governo de Dilma Rousseff, em maio de 2016, deram uma clareza maior às relações bilaterais, sobretudo após o descarte daVenezuela, que concebia o Mercosul como um instrumento comercial de “resistência” aos Estados Unidos.

O fato é que Brasil e Argentina experimentaram em 2016 a recessão (a economia do país vizinho recuou 1,8%, provocando a queda do ministro da Fazenda Alfonso Prat-Gay), com o agravante de a inflação argentina ter fechado em 41%.

O problema que os dois países enfrentaram foi a “herança maldita” de Dilma (o descontrole fiscal) e Cristina (problema fiscal maior ainda, provocado por uma política de subsídios de todos os serviços públicos).

Mauricio Macri assumiu o risco da impopularidade ao tentar colocar a casa em ordem. A água, o gás e a eletricidade são distribuídos segundo tarifas mais realistas, apesar da majoração de até 500% para compensar o fim dos subsídios.

A Argentina também voltou a se financiar no mercado internacional, com o fim da moratória – mais política que financeira, no período de Cristina Kirchner – de credores que detinham desde 2002 os títulos da dívida pública com o peso artificialmente equiparado ao dólar.

Em outras palavras, 2017 será um ano de recuperação dos dois lados da fronteira. A Argentina acredita que poderá crescer 3,5%, e deixará de sofrer os efeitos indiretos da recessão brasileira. Para cada ponto que o Brasil cai, a economia argentina deixa de crescer 0,25%.

Temer e Macri sabem disso. É por isso que se encontraram, bem mais como um gesto político.

Num terreno em que a economia é como a intendência, numa frase espirituosa do general Charles De Gaulle. “A intendência virá atrás.”

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