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Uma Las Vegas às portas da China - 16/04/2014

Na Cotai Strip, a mostra do frenesi construtivo mantido por uma década e que resultou no triplo de cassinos, que agora somam 35.A cidade de Macau, na costa sudeste da China, já possui sua própria versão de Veneza, contando até com o Grande Canal e a Ponte de Rialto. Em breve, ganhará um quê da França, com uma Torre Eiffel e um resort gigante baseado no Palácio de Versalhes, como parte de uma explosão nas construções que levou dezenas de guindastes a uma faixa disputada de terra.

Macau cresceu de forma impetuosa na última década, e outro surto de expansão segue a pleno vapor enquanto alguns dos maiores operadores de cassino do mundo fazem suas apostas no amor chinês pelo jogo.

Em fevereiro, executivos da empresa Sociedade de Jogos de Macau (SJM), usando capacetes dourados e manejando espadas da mesma cor, começaram a construção do Palácio Lisboa, inspirado em Versalhes. O complexo que custará o equivalente a US$ 3,9 bilhões deve ser inaugurado em 2017 e contará com 700 mesas de apostas e três hotéis, incluindo o Palazzo Versace e outro projetado por Karl Lagerfeld, principal estilista das casas Chanel e Fendi.

Antiga colônia portuguesa, devolvida aos chineses em 1999, Macau agora ofusca Las Vegas como centro de apostas. E simboliza o crescente poder aquisitivo chinês e a evolução de sua economia para além da indústria pesada e rumo ao crescimento mais focado no consumo.

O monopólio de quatro décadas do magnata local das apostas, Stanley Ho, terminou em 2002, abrindo as comportas para um frenesi construtivo que resultou no triplo de cassinos, que somam 35, em uma década. Muitos estão situados em Cotai Strip, área que no passado foi apenas uma faixa de água entre as ilhas de Coloane e Taipa.

A receita das apostas somou quase 361 bilhões de patacas macaenses (aproximadamente US$ 46 bilhões) no ano passado, contra 22,2 bilhões de patacas em 2002. Para comparar: a região da Strip de Las Vegas gerou perto de US$ 6,5 bilhões no ano passado, experimentando pouco crescimento durante esse mesmo período.

"É impressionante o que aconteceu na última década", diz Edward M. Tracy, principal executivo de Sands China, subsidiária com ações negociadas na Bolsa de Hong Kong da Las Vegas Sands Corp. "Ficamos ao lado do maior mercado do mundo. Há um bilhão de pessoas a mais do que nos Estados Unidos."

Empresa por trás do gigantesco hotel Venetian, do cassino e de outros locais em Macau, a Las Vegas Sands vai acrescentar um complexo parisiense programado para ser aberto no ano que vem. Uma versão menor da Torre Eiffel contará com deque de observação e restaurante para 200 pessoas.

Viagem de turismo

O Galaxy, grande resort que integra o Galaxy Entertainment Group, empresa de Hong Kong, abriu há menos de três anos. Hotéis Ritz-Carlton e JW Marriott estão chegando ao local.

A Wynn Resorts, outra operadora de cassinos dos EUA, planeja um complexo de cassino e hotel com 1.700 quartos a ser aberto em 2016. Stephen A. Wynn, fundador e CEO da companhia, pretende fazer dali "o local mais famoso e importante da Ásia".

"Não consigo imaginar nada mais emocionante do que atuar em Macau”, Wynn declarou durante recente entrevista telefônica em Las Vegas. "Não existe nada igual".

Por trás de toda essa atividade estão pessoas como Liu, fumante inveterado de 57 anos e dono de uma fábrica de tintas de Foshan, 120 quilômetros a norte de Macau, que fazia apostas de 20 mil dólares de Hong Kong (aproximadamente US$ 2.600) nas mesas de bacará na sala VIP do Venetian em março. Em Macau as apostas costumam ser feitas em dólares de Hong Kong e não em patacas macaenses.

"Perdi cem mil ontem", disse Liu, que não quis dizer o primeiro nome. "Nem sequer voltei ao quarto do hotel na noite passada, e agora estou ganhando tudo de volta. Tenho mais dinheiro no cofre do hotel. Acabei de ter um neto e estamos comemorando. Dinheiro não é problema."

Quase 20 milhões de pessoas, um em cada cinco chineses que se aventurou além da China continental no ano passado, vieram a Macau para apostar, fazer compras e turismo. Eles compõem a grande maioria dos visitantes. Executivos e analistas estão confiantes ao afirmar que a riqueza crescente e as melhores conexões de transporte – incluindo uma ponte que ligará Macau a Hong Kong em 2016 –impulsionarão o crescimento durante algum tempo.

Analistas da Nomura previram em relatório recente que a receita das apostas poderá quase dobrar até 2018, somando US$ 80 bilhões. Isso ajuda a explicar por que operadores como Wynn, Sands e SJM estão preparados para injetar bilhões de dólares na expansão, apesar de os impostos sobre a receita das apostas em Macau serem muito mais altos do que em Nevada.

A floresta de guindastes em Cotai também é um exemplo da fé dos operadores de cassino de que Pequim, apesar da recente repressão sobre a corrupção e gastos ostentosos, se mostre feliz em deixar as apostas prosperarem em Macau, região administrativa da China com regras próprias e onde cassinos estão liberados, ao contrário do que acontece no continente.

Na verdade, até agora nem a repressão nem o esfriamento da crepitante economia chinesa enfraqueceram as casas de jogatina e os shoppings frenéticos de Macau. Com diárias na casa de várias centenas de dólares, os hotéis têm taxa de ocupação acima de 90%. Estatísticas mostram que a receita das apostas em fevereiro deste ano deu um salto de 40% sobre o ano anterior, chegando a um recorde de US$ 4,8 bilhões.

Atrações multiplicadas

Para administrar esse crescimento, a ilha Hengqin, nos arredores de Macau, foi designada como ponto de residências e hotéis. Ali não serão permitidas apostas.

Segundo analistas e executivos, por enquanto a mão de obra representa uma das maiores restrições. Os salários cresceram acentuadamente, e dezenas de milhares de funcionários adicionais serão necessários para os resorts em construção, pressionando as autoridades a abrir a imigração.

"Macau resume o consumo chinês num só lugar", afirma Aaron Park, ex-banqueiro norte-americano que trabalha na Paradise Entertainment, operador de um cassino local. "Em poucos anos, será um epicentro para as maiores marcas do mundo."

Em meio ao tilintar das fichas e os trinados das máquinas caça-níqueis, a atmosfera reluzente nos cassinos é intensa. Os apostadores não estão aqui para ganhar nem para se divertir. Eles bebem chá e café, não álcool. Não é incomum ver gente comendo macarrão nas mesas de apostas. É comum encontrar várias apostas de milhares de dólares numa mão de cartas.

Porém, os operadores do cassino também tentam cada vez mais atrair turistas com famílias e crianças – pessoas como Zhao Yi, 36 anos, vendedor de eletrônicos do vizinho Cantão, que recentemente passou por ali com a mulher e o filho. Para eles, o motivo da estada de três dias não era a boa comida, mas sim a comemoração de seu aniversário de casamento.

"Pensamos em Las Vegas, mas Macau fica tão mais perto e talvez seja melhor, então viemos para cá", conta Yi. "Ontem comemos pato ao molho pardo num bom restaurante e foi muito especial".

Os novos pontos de atração incluem shoppings de luxo, spas, piscinas e salões de baile. O Venetian conta com arena para 15 mil pessoas, onde os Rolling Stones se apresentaram em março.

O complexo Palácio Lisboa do SJM terá com pavilhão para casamentos e teatro, além de ligação para um parque de diversões voltado para famílias nos arredores. O Galaxy tem cinemas e um enorme "diamante da fortuna" que surge de uma fonte a cada meia hora. No Wynn, um dragão se levanta periodicamente do piso do saguão abobadado, para deleite dos visitantes.

"Apostar não vai sair de moda. Somente irá se tornar parte de uma oferta mais ampla", diz Ian M. Coughlan, presidente do Wynn Macau. "Ainda não estamos explorando toda a demanda que existe, muito longe disso. É como se fosse a ponta de um iceberg."



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