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O câmbio como ferramenta de comércio - 17/10/2013

A desvalorização do real já não garante aumento de competitividade do produto brasileiro no exterior. Na outra mão do comércio, a desvalorização da moeda de qualquer exportador para o Brasil tem potencial de derreter as barreiras tarifárias cuidadosamente preservadas pelo País. A manipulação do câmbio tornou-se tema nevrálgico do comércio internacional e foi discutida no Fóruns Estadão-Brasil Competitivo. Para o Brasil, essa questão será crucial para a definição da política a ser conduzida nos próximos anos e de uma eventual agenda negociadora.

Em 2011, a Organização Mundial do Comércio (OMC) ensaiou uma discussão sobre a "guerra cambial". Por instrução de Brasília, o embaixador Roberto Azevêdo introduzira o debate quando ainda chefiava a missão brasileira na OMC. As conversas acabaram em nada. Agora, como diretor-geral da organização, Azevêdo pondera ser impossível a um único organismo internacional - seja a OMC, o Fundo Monetário Internacional ou o Banco Mundial - resolver sozinho esse imbróglio. "A questão cambial só se resolve se houver coordenação entre os países emissores de moeda forte", afirmou, durante o evento.

O Brasil dificilmente faria parte desse clube como ator. Eventualmente, seria uma vítima a ser ouvida. As conversas começaram, mas em círculos nos quais o País não figura. Os Estados Unidos, com o dólar desvalorizado pelas três rodadas de relaxamento quantitativo desde dezembro de 2008, agora exige a adoção de uma cláusula cambial no acordo em negociação com os países do Pacífico (TPP, na sigla em inglês), segundo o diretor do Departamento de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria, Carlos Eduardo Abijaodi. De forma imediata, o temor americano recai sobre um emissor igualmente voraz, o Japão, cioso em elevar a competitividade de seu produto via desvalorização do iene.

Mercado brasileiro. Para o Brasil, as mazelas são maiores. Nos cálculos da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), a taxa de câmbio brasileira desvalorizou 84,6% entre dezembro de 1998 e setembro de 2013. Se era ruim para os exportadores há 15 anos, agora é bem pior, avalia José Augusto de Castro, presidente da AEB. "Os gargalos (para o exportador) tornaram-se tão grandes que,para a taxa de câmbio fazer efeito no comércio, seria preciso rezar em mandarim", ironizou.

A desvalorização do real teria de alcançar um nível elevado demais para compensar os custos da Infraestrutura de transportes e Logística precárias, da burocracia em torno dos negócios, dos procedimentos comerciais repetitivos, da Carga Tributária sobre a produção e a exportação, explicou Castro. Segundo ZeinaLatif, sócia da Gibraltar Consulting, a esses custos devem ser somados os da inflação e do aumento de salários reais nos últimos anos, sem aumento compatível de produtividade. Ambos elementos foram gerados pela preservação da política do governo Dilma Rousseff de estímulo ao crédito e ao consumo por mais tempo do que o recomendável.

"Corrosão". Vera Thorstensen, professora da Fundação Getúlio Vargas, defende a retomada da discussão do tema na OMC e propõe, de antemão, a definição de uma banda cambial na qual as taxas nacionais poderiam flutuar. A ultrapassagem do limite, em um processo de desvalorização mais acentuado, teria de ser neutralizado por ordem da organização. Conforme ela lembrou, "o mundo inteiro" está mexendo no câmbio como meio de acentuar a competitividade de suas exportações. Com isso, o Brasil e outros países tornam-se vítimas de outro efeito negativo - a "corrosão" de suas tarifas comerciais.

Nesses casos, a desvalorização torna o preço em dólar do produto importado tão mais barato que, mesmo com o pagamento de tarifas elevadas, continua competitivo no mercado alvo. Essa tem sido uma das motivações para o aumento das importações no Brasil. Segundo Vera, muitos dos casos de medidas antidumping investigados pelo Departamento de Comércio Exterior (Decom) são, na verdade, questões cambiais. "O câmbio come as tarifas. Isso tem de ser levado em conta nas negociações comerciais, assim como as barreiras não tarifárias", afirmou.

O Estado de S. Paulo
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